sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ensaio – "Poker Face": as cartas já foram dadas



Texto: Rafael Senra
rararafaels@yahoo.com.br

Nessa virada de década, o mundo anda voltando suas atenções para o mais novo (e imediato) fenômeno pop Lady Gaga. A bizarra cantora americana parece ganhar críticos na mesma velocidade em que arrebata o coração de tantos outros fãs. Ao navegar rapidamente na internet, já vi a moça ser acusada de copiar Madonna, Cindy Lauper, Nina Hagen, Cher, Fred Mercury, David Bowie, Grace Jones, Elton John... isso só pra ficar com alguns. É muita gente.

Em uma entrevista recente, a moça tenta se safar das acusações de imitadora de Madonna e outras divas, com uma justificativa até interessante. Na verdade, ela não nega a falta de originalidade, mas argumenta que essa mistura inusitada de tantas fontes nunca tinha sido feita antes.

            Na verdade, mesmo não gostando da música de Gaga, penso que ela simboliza um elemento que será recorrente nesse século que se inicia: o da originalidade através da mistura.


            Todos os artistas que andam surgindo dos anos 2000 para cá acabam inevitavelmente comparados com outros mais antigos. Talvez o marco seja até antes (penso em 2000 apenas por comodidade de uma data "marcante", mas deixo ao leitor a tarefa de definir possíveis datas à seu bel prazer), mas o que importa é o aparente sumiço daquela empolgação de ouvir uma coisa realmente revolucionária, com o frescor do novo.

            Minha teoria (sintam-se a vontade para discordar) é que o século XX foi o século que lançou as regras da indústria cultural. Teóricos como Adorno e Marx abordaram alguns de seus aspectos macro; enquanto outros como Benjamin e LeGoff ficaram com o micro, mas minha intenção não é me deter nesses papo-cabeça universitários. A questão que me faz pensar é que nesse século XXI, dificilmente alguém será original na arte enquanto a conhecemos.

Talvez até surja algo inovador em relação à mudanças e evoluções nos formatos de mídia que conhecíamos, mas em relação ao formato da música pop (só para não fugir do foco do texto) como a conhecemos, as chances de alguém contribuir com algo realmente novo e revolucionário são quase zero.

            Portanto, se a humanidade não quiser morrer de tédio nos próximos anos, - ou pelo menos até surgirem novas mídias -  terão que aceitar o fato de que as misturas diferenciadas serão a nova revolução nas artes em geral. Correndo o risco de me tornar um profeta frustrado, arrisco dizer que ninguém vai reinventar a roda das artes como as conhecemos (vejam bem, como as conhecemos), e teremos que nos contentar com misturas malucas e, por vezes, controversas.

Em suma, não é hora mais de se preocupar com as cartas, pois todas elas já foram dadas; o foco agora está nas mãos, nas sequências, nas combinações malucas entre os naipes.

            Se minha teoria proceder, as novas musas devem continuar seguindo essa cartilha de polêmica e escândalos, como vem fazendo essas tais de Amy Winehouse ou Lindsey Lohan (se eu errar o nome das famigeradas, por favor, não me processem. Não vou perder tempo procurando a grafia correta no google). Enfim, defendendo a autora de Bad Romance e Alejandro – mesmo não gostando das músicas - , paradoxalmente essa Lady não parece ter nada de gagá.

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