terça-feira, 4 de agosto de 2009

Música - Coldplágio

Texto: Rafael Senra

Este ensaio foi escrito em 17/06/2009, sobre os processos de plágio que estavam rolando com a banda britânica Coldplay. Apesar de parecer já datado, o texto pode ser interpretado com algumas considerações sobre plágio na música pop - principalmente na incoerência óbvia que há em se pensar que o pop não se move através do plágio.


Como qualquer sujeito que acompanha notícias sobre música, tenho lido freqüentemente sobre as notórias acusações de plágio ao Coldplay. Até agora, já se contabilizam quatro acusações: Joe Satriani (a única que foi levada aos “finalmentes”, ou seja, ao tribunal), Cat Stevens, e mais dois Zé-ninguéns (pelo menos por enquanto). O que me incomodou nisso tudo são duas coisas. Primeira: Não é a primeira vez que o Coldplay (ou “Coldplágio”, como a imprensa maldosamente apelidou a banda) copiou a música de alguém de modo tão leviano, mas antes não falaram nada. Segunda: Será que ninguém, e incluo nesse raciocínio tanto a banda, quanto os acusadores e críticos de música, pensaram no absurdo que é o Coldplay ser acusado de copiar várias músicas aparentemente diferentes?

Parafraseando o WinRar, vamos por partes. Sobre a primeira: Já tem muito tempo que eu tinha sacado o roubo (ainda mais explícito que na faixa Viva la Vida) que os escoceses fizeram na música Talk, que é uma cópia hiper-safada da música Computer Love do Kraftwerk. Quando eclodiu esse falatório sobre o processo do Satriani, com direito a vídeos que comparavam Viva la Vida e If I Could Fly, rapidamente procurei no You Tube se alguém já houvera feito o mesmo com Talk e Computer Love. Meu ego ficou arranhado ao perceber que eu não fora o único perspicaz a notar o assalto anterior: já haviam vídeos que comparavam o delito. A questão é: Porque ninguém falou nada sobre isso? Essa cópia é, na minha opinião, ainda mais explícita que Viva la Vida!!

O que me leva a segunda questão, que vou repetir para facilitar a fluência: Como uma música pode ser plágio de tantas outras ao mesmo tempo? E essa pergunta leva a outra: Porque o Cat Stevens não acusou o Joe Satriani de plágio antes dessa história toda, ou mesmo agora? E porque o Satriani não acusou também os outros artistas dos quais não me lembro o nome, e vive versa também? Será que o Coldplay foi eleito o alvo oficial porque supostamente eles estão entupidos de dinheiro? Ou porque acusa-los de plágio gera publicidade gratuita? Se me permitem, só mais uma perguntinha: Será que alguém evocou essas questões, ou isso passou batido? Links para possíveis reflexões que tangenciem meus questionamentos, e comentários, serão muito bem vindos.

A grosso modo, penso que nessa era de samplers, releituras, e afins, é complicado falar de plágio nos termos que estão tratando sobre o Coldplay. Existem cópias que são absurdamente descaradas, como a que o Oasis promoveu anos atrás, quando eles xerocaram trechos inteiros da música Go Let it Out (não me perguntem de quem eles afanaram a letra - que foi toda roubada - mas a melodia é uma cópia tosca de I'm the Walrus, da banda mãe dos caras, Beatles). E exemplos de cópias ainda mais safadas não faltam: Uma pá de hits do Deep Purple nasceram de riffs usurpados na cara dura: dentre as mais famosas estão Child in Time e Black Night (esta última, lembro-me de que a vítima do assalto foi a linha de baixo de uma canção de Jimi Hendrix).

Uma frase, atribuída ao pintor Pablo Picasso, resume o que quero dizer neste texto: “os bons artistas copiam; os gênios, roubam”.

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