domingo, 12 de abril de 2009

Ensaio - A Música dos meus Sonhos

Texto: Rafael Senra

Qual a melhor música que você já ouviu em sua vida? Você ainda espera por essa música, ou ela já foi tocada? O que faz uma música ser inesquecível? Hoje em dia, as pessoas escutam músicas pelas próprias músicas, ou pelas bandeiras que outros carregam?



Sonho com uma música que nos leve um degrau acima. Uma música que rompa com a dialética hegeliana de "bem e mal", "certo e errado", "feio e bonito", velhos alicerces do pensamento ocidental. “Velhos” no sentido ultrapassado da palavra.

Sonho com uma música das esferas que seja popular. Uma música pensada em unir céu e terra, não tão pretenciosa para ser chamada “erudita”, e nem mesmo simplória para dizer que é acessível. Algo complicado para se desejar, em nossa época de extremos, bem sei.

Sonho com uma música que fale desse imaterial, desse inenarrável, fale do que não possa dizer. Mas fale sem palavras, ou melhor, funcione como a melhor das poesias, que não pode (e nem pretende) ser explicada, definida, aprisionada nos significados.

Sonho com uma música, que ainda não consigo segurar na palma das minhas mãos. O veículo material apenas nos proporciona a apreciação, o resto é um processo imaterial, subjetivo, realizado em nosso interior.

Pensando nisso, sonho com uma música que construa mais que um espaço de resistência. Assim funciona grande parte de nossas músicas: elas são veículos de identidade. As pessoas escutam algumas canções e dizem: "isso é do tempo da minha avó", ou dizem "isso é o meu vizinho escroto quem escuta". Os ouvidos não escutam a música, eles não percebem mais do que as bandeiras por trás das músicas. Assim, aceitar e rejeitar esses traços de cultura passa por nossas lutas. Mas será que estamos lutando as batalhas corretas?

Sonho com uma música que fale ao coração de todos. Grande utopia talvez, nesses tempos de individualismo. Talvez seja um sonho que dependa mais da recepção das pessoas do que propriamente das músicas. Afinal, nem todas elas são compostas para convencer de sua validade, mas seu uso posterior depende de outros fatores. Se serão armas ou consolos, depende de quem usa.

Acho que meus sonhos tem que ser redefinidos. Eu posso sonhar por mim, fazer por mim. E se fizer bem feito, isso pode servir para outras pessoas. Mas só para aquelas que quiserem.

Um comentário:

nariz de duende disse...

e eu sonho de vez em quando com as músicas de um certo rafael senra, mas me conformo de ainda escutá-las no radinho aquele cdzinho com música de vitória!
ainda pego um congo pra congonhas, ou um trem para são joão mesmo!
gosto mesmo de ler seus textos rafa, me deixam muito feliz!