segunda-feira, 31 de março de 2008

Resenha – Celebridades Marginais


O famigerado site “You Tube” virou um portal para o sucesso fácil de um número sem fim de pessoas que, tomando por base os veículos tradicionais de comunicação, dificilmente se projetariam. O portal de vídeos funciona como uma catapulta fora dos conglomerados midiáticos tradicionais, como as emissoras de Roberto Marinho e Edir Macedo, e afins. São figuras que atendem por nomes como Jeremias, Ednaldo Pereira, “Carro Velho”, etc. O critério, como é da preferência do brasileiro, parece ser sempre o humor, atrativo primordial para a popularidade em terras tupiniquins.


Mas uma coisa que me chamou a atenção nessas “celebridades” foi uma característica em comum que, apesar de produzir um efeito pândego (humorístico) vai um pouco além: Esses tipos encarnam quase que personagens autenticamente brasileiros, e resgatam em sua espontaneidade um espírito esquecido, de tempos menos corporativistas. Parecem ter nascido em tempos imemoriais, em uma outra era, onde palavras como “globalização” e “neoliberalismo” não queriam dizer absolutamente nada.


Ao assistir esses vídeos, sinto que os brasileiros ainda se sentem atraídos por esses tipos quase marginalizados, que representam algo bem distante dos modelos de comportamento semi-americanizado que as novelas tentam nos fazer engolir. Cada vídeo desses parece um gemido do genuíno brasileiro, que não quer se deixar sufocar tão fácil, que quer dizer algo seu, e com suas próprias palavras, antes de sucumbir.


Esses dias, me emocionei muito ao assistir um documentário chamado “Tokyo G.A.”, do alemão Win Wenders. O diretor é fã inveterado de um cineasta japonês da década de 30, chamado Yasujiro Ozu, que fazia filmes de baixo orçamento, todos pautados por uma extrema sensibilidade. Wenders foi até a capital Tóquio para tentar descobrir o que ainda resta ali que representasse um Japão real, genuíno, como o retratado nos filmes de Ozu. Os lampejos de espontaneidade de um povo que Wenders captura são arrepiantes, e me lembraram muito alguns desses vídeos de humor.


Ao andar por uma rua hoje em dia, somos obrigados a ver expostos em outdoors propagandas dos grandes totens capitalistas, como Coca-cola ou Nike, e nem podemos reclamar, pois esses gigantes nos ajudam, de certa forma, a pagar nossas contas. Mas todo esse interesse do público consumidor por uma cultura que fuja dessa sombra, como o que vem acontecendo com esses vídeos, ou até em relação a fenômenos como o funk carioca e gêneros semelhantes de música, mostra que existe um interesse, ainda que sem direcionamento, por algo que remeta a uma produção autêntica de cultura nacional. Ou seja, tento ver esses acontecimentos com otimismo.

Um comentário:

Jersica Paes disse...

Olá, Rafael!
Este seu post me fez lembrar um documentário produzido por minha amiga Juliana Leijoto, que foi exibido pela TV Lafaiete, chamado "Personagens Urbanos". Ela entrevistou "celebridades populares" de Lafaiete e documentou isso em vídeo. São pessoas que exibem suas particularidades de forma até exagerada, mas cheias de orgulho. Algumas são taxadas de loucas. Outras, admiradas pelo seu modo de viver, como é o caso do vendedor de gás que percorre a cidade em sua carroça, puxada por uma égua, gritando "éééééééiiiiiiieeeeeuuuuu" (existe até uma comunidade no orkut dedicada a ele) - um homem muito trabalhador. Bom, é isso. Se eu tiver algum acesso ao vídeo, e tiver como passá-lo a você, pode ter certeza que passarei. Passei apenas pra deixar o registro. Um abraço e, mais uma vez, parabéns pelo blog!