Texto e Ilustrações: Rafael Senra
Difícil encontrar alguém que nunca ouviu falar de John, Paul, George e Ringo. Só os primeiros nomes já são suficientes para adivinhar o resto. Mas se falarmos de nomes como Julian Lennon, Sean Ono Lennon, James McCartney, Stella McCartney, Dhani Harrison, ou Zak Starkey... faz idéia de quem sejam?
Neste texto, dou uma geral sobre os filhos dos Beatles, que carinhosamente (ou ironicamente) chamo de Baby Beatles. Todos se aproveitam dos famosos sobrenomes, algo quase inevitável. Os famosos rebentos não poderiam passar ilesos nem se quisessem.
Mas não digo isso pejorativamente. Alguns deles herdaram mais que a alcunha nas certidões de nascimento: herdaram um notável e impressionante talento de seus pais.
A parte 1 trata dos filhos de Lennon, que são as crias com maior destaque no universo pop. Na parte 2, comentarei a vida e obra dos outros filhotes de Paul, George e Ringo.
Parte 1 – Baby Lennon’s
Julian Lennon
Na minha opinião é o mais talentoso, e certamente o mais injustiçado baby. Afinal, foi ele que puxou o carro da ilustre prole beatlemaníaca. Julian é filho de John e Cynthia Powell, a primeira esposa do falecido beatle.
Vocês se lembram da canção “Hey Jude” ? Originalmente ela se chamava “Hey Jules”, e foi composta por Paul McCartney para o filho de Lennon, na época parceiro nos Beatles.
Se o primeiro filho de John herdou o carma atribulado do pai (lar despedaçado, pai ausente, pecha de artista atormentado), pode-se dizer que a capacidade de compor belas músicas também veio de brinde. Seu primeiro disco, Vallote (1984), é um clássico instantâneo, que revelava um promissor intérprete e compositor.
Infelizmente, o rapaz não sabia em que mato estava se metendo. O cenário musical e a mídia da década de 80 começavam a esboçar o formato atual, calcado no culto à celebridade e lucro acima da música. Figuras como John Lennon tentavam se reinventar nessa insípida realidade, para uma geração yuppie onde as utopias hippie não diziam muita coisa. Contudo, se o sonho havia acabado, Mark Chapman tratou de enterra-lo de vez.
Três anos após a tragédia que entristeceu o planeta, eis que surge um Lennon filhote: jovem como o pai na época dos Beatles, e talentoso na medida certa. Seu visual e voz transfiguravam o pai com uma perfeição assustadora. Isso já bastaria para jogar sobre os ombros de Julian (lembram da letra de Hey Jude? “don’t carry the world upon your shoulders”) uma pressão imensa. (veja aqui o primeiro single de sucesso de Julian, Too Late for Goodbyes)
E além disso, ele ainda por cima foi o primeiro baby beatle a ter um trabalho artístico divulgado em maior escala. O resultado não podia ser diferente: foi atacado por todos os flancos. Ainda que Paul e George mostrassem um público apoio e defesa à Julian, o pobre rapaz não foi poupado. O resultado pode ser notado na mediocridade de seus discos subseqüentes, como The Secret Value of Daydreaming (1986) e Mr. Jordan (1989), além de uma queda livre emocional embalada pelo alcoolismo.
Julian só mostrou sinais de vida inteligente ao lançar, em 1991, Help Yourself, com produção de Bob Ezrin (que produziu discos como The Wall, do Pink Floyd). É um disco com bons momentos, e pelo menos uma grande música (o megahit Saltwater ).
Mas a boa forma só surgiria sete anos depois, no seu disco mais recente Photograph Smile (1998). É um grande disco, pelo menos na minha opinião. Tem pegada, boas composições, e é mais despojado que seu grandiloquente álbum anterior (Veja aqui I Don’t Wanna Know ). Me lembra muito algumas musicas dos Tears for Fears na fase pós-Elemental, ainda mais pelo som das guitarras. Vale lembrar que Roland Orzabal (líder dos TFF) e Julian são grandes amigos. (veja aqui Julian tocando Stand By Me com Orzabal)
Julian lançou um single em 2010, chamado Lucy, em parceria com James Scott Cook. A música foi feita para duas "lucys": aquela da música Lucy in the Sky With Diamonds (Lennon se inspirou em um desenho de Julian para fazer a música) e a mãe de James, que tem o mesmo nome. Ambas morreram de leucemia, e o dinheiro arrecadado com a venda do single vai para instituições de pesquisa sobre a doença.
Achei também informações sobre um disco pronto dele, mas que não foi lançado, chamado Everything Changes. Mas não descobri maiores detalhes.
Achei também informações sobre um disco pronto dele, mas que não foi lançado, chamado Everything Changes. Mas não descobri maiores detalhes.
Sean Lennon
Sean Ono Lennon, diferente de Julian, sempre teve uma boa relação com a imprensa. Sempre foi incensado, e considerado um sujeito “antenado” com artistas de vanguarda (assim como a mãe, Yoko). Enquanto Julian viu John poucas vezes em toda a sua vida, - se tornando quase obcecado por ele (veja essa chocante entrevista, onde Julian detona o pai) - Sean viveu com o pai até seus cinco anos, e presenciou seu assassinato em frente ao edifício Dakota, naquele fatídico dezembro de 1980.
A ligação entre Sean e John é mais intensa do que parece: depois de crises de abstinência em heroína e tentativas frustradas de ter filhos (Yoko abortou várias vezes), além de tentativas do governo Reagan de extraditar o casal Lennon, Sean nasce saudável e no mesmo dia do nascimento de John.
Além de seus álbuns solo, Sean já tocou com muita gente boa. A “mamãe” Yoko foi a primeira, seguida de gente como Burt Bacharach, Medeski Martin & Wood, Lenny Kravitz, e até com os brasileiros Vinicius Cantuária, Tom Zé e os Mutantes.
Particularmente, eu achava ele um chato, metido a vanguardista e agitador cultural. Vislumbrei uma luz no fim do túnel quando tive contato com suas ilustrações (que podem ser conferidas em seu site oficial ), e depois calei-me ao ouvir seu lançamento mais recente, Friendly Fire, de 2006.
A tristeza do término de um namoro parece ter feito o moleque se revelar: compôs as músicas, tocou todos os instrumentos, e até desenhou a capa do disco. Tudo de forma impecável. Aguardo ansiosamente seus próximos trabalhos.
Ah, vale lembrar que há alguns anos, Sean e Julian voltaram a se falar, depois de anos brigados.
Parte 2
Hello! Nessa segunda parte do ensaio sobre os “Baby Beatles”, escreverei um pouco sobre os trabalhos dos filhos de Paul, George e Ringo. Na primeira parte, falei apenas dos filhos de John Lennon, que já tem mais estrada do que alguns dos outros rebentos.
Nessa parte, não comentarei em detalhes sobre a carreira das filhas dos astros (elas não seguiram a carreira musical), me detendo com mais detalhes sobre os músicos, Zak Starkey, James McCartney e Dhani Harrison.
Starkey’s Baby
Zak Starkey é um dos três filhos de Ringo, mas provavelmente foi o único deles que se expôs publicamente. O rapaz não herdou do pai só o proeminente nariz, mas também a habilidade com as baquetas (que fique claro: pertenço ao time que considera Ringo um excelente baterista. Econômico e criativo, na medida certa).
Curiosamente, apesar de Zak ser filho de um dos bateristas mais famosos da história, dizem que seu pai não quis incentiva-lo a tocar bateria. Infelizmente, Keith Moon não levou os conselhos de Ringo a sério, e além de presentear o filho do amigo com uma bateria, ainda deu algumas aulas para ele. Depois dessa, não tinha como o garoto não querer continuar tocando!
A honra de aprender bateria com Moon pôde ser retribuída anos depois, quando Zak foi convidado a substituir o lendário e ensandecido baterista no The Who. O rapaz também chegou a tocar algum tempo com o Oasis, mas acabou entrando na grande lista de “baixas” da banda, sendo mais uma vítima dos inflados egos gallagherianos.
McCartney’s Babies
James McCartney
Na carreira musical, James McCartney (que para os desavisados, herdou o mesmo nome de seu pai - que não se chama Paul, mas James Paul McCartney) deu seus primeiros passos profissionais há pouco tempo. O rapaz de 32 anos só fez sua estréia efetiva na carreira solo em novembro de 2009, realizando sua primeira turnê.
Entretanto, seu caráter de multinstrumentista denota que James já havia se preparado para essa empreitada há tempo, herdando do pai a habilidade com vários instrumentos (o ex-beatle já gravou vários álbuns estilo “one man band”: McCartney, de 1970, provavelmente é o mais bem sucedido nessa seara).
Em 2001, James tocou com o pai em uma música composta pelos dois, chamada Sppining on an Axis, do disco Driving Rain.
Aparentemente, James parece querer fazer sua carreira decolar sem usar do famoso sobrenome: Na adolescência, escondia dos amigos sua descendência, e chegou a trabalhar como garçom em Brighton para pagar suas despesas. Fez também alguns shows com o pseudônimo “Light”. Mas suas influencias musicais não negam a musicalidade dos Beatles, e se somam à artistas das décadas de 80 e 90, como Pj Harvey, The Cure, Nirvana e Radiohead, de acordo com ele.
Algumas demos de shows de James com músicas inéditas vazaram na internet. Dada a baixa qualidade do material, provavelmente são gravações feitas por alguém da platéia, e revelam que o som de James realmente assimila as influências que ele menciona. As faixas não parecem empolgantes, mas vale mencionar que a gravação não é das melhores.
Mary McCartney
A filha mais velha de Paul se tornou fotógrafa, assim como sua mãe Linda McCartney, e seu primeiro trabalho divulgado foi justamente uma sessão de fotos que fez de Linda dias antes de seu falecimento, em 1998.
Assim como o irmão James, os primeiros passos efetivos na carreira foram dados recentemente, quando Mary foi convidada a fotografar o filho do ex-ministro britânico Tony Blair; o casamento de Guy Ritchie e Madonna - cujo vestido foi desenhado pela irmã mais nova de Mary...
Stella McCartney
Stella é conhecida em todo o mundo como uma renomada estilista, mas já trabalhou também como atriz, modelo, apresentadora e socialite (socialite é um trabalho? – desculpem a ignorância). A polivalência parece ser mesmo um hábito da família McCartney!
Mas a predileção de Stella pela moda é mais antiga: em 1987, quando tinha 15 anos, trabalhou com o estilista Christian Lacroix, e alguns anos mais tarde, formou-se no St. Martins College of Art & Design, em Londres.
Teve que lidar com uma série de julgamentos negativos de vários críticos de moda, que achavam que a garota se aproveitava do sobrenome para fazer carreira. Porém, o lançamento de renomadas grifes de Stella pelas marcas Chloé e Gucci provam que o talento e a descendência “nobre” podem andar de mãos dadas.
Harrison’s Baby
Dhani Harrison
Dhani Harrison é o único filho de sir George, e parece um clone rejuvenescido do pai em vários aspectos: além da semelhança física, também é compositor, guitarrista, e apaixonado por carros de Fórmula 1 e aerodinâmica.
Sobre a semelhança física, é arrepiante observar Dhani tocando no tributo a George, realizado no Royal Albert Hall de Londres em 2002, e lançado em DVD. Ao lado dos antigos colegas de banda Paul e Ringo, além de um time de responsa (o organizador do tributo Eric Clapton, mais Ravi Shankar, Tom Petty e Billy Preston), McCartney comenta com a platéia que “ao olhar para Dhani no palco, vemos que George parece jovem, enquanto nós todos envelhecemos”.
Dhani colaborou com o pai em duas ocasiões. A primeira foi no último disco dos Traveling Wilburys, um divertido projeto de folk e country rock formado por George, Bob Dylan, Jeff Lynne (ex- ELO), Tom Petty e Roy Orbison. (este último, somente no primeiro disco dos TW) Por fim, no último disco de George, Brainswashed, Dhani tocou com o pai, e ajudou a finalizar o disco final da carreira do ex-beatle.
Dhani montou uma banda chamada “Thenewno2” em 2006. Até agora, já lançou um álbum apenas, You Are Here, em 2008, além de um EP em 2006, EP001. Só ouvi este último, que não pareceu muito empolgante, mas revelava uma banda promissora, que talvez surpreenda com o tempo.
O rapaz conta que tentou entrar na faculdade, trabalhar como designer, esportista... tudo para desistir da música. Mas o DNA falou mais alto, e Dhani parece ser mais um talentoso filho dos Beatles a escrever essa nova história para uma nova geração.
2 comentários:
eles são um marco assim como The doors e pink floyd para mim são o melhor do rock.
é super tenso administras vários blogs mais nós vamos levando, que bom que você faz de modo éficaz
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