sábado, 24 de novembro de 2007

Resenha de Filme: A Época da Inocência




No filme “A Época da Inocência” (The Age of the Inocence, 1993), o realismo parece ser o elemento mais presente no que concerne ao estilo. Muito disso com certeza vem da fidelidade do roteiro do filme com o livro de Edith Wharton. Apesar disso, o diretor Martin Scorcese preferiu misturar também elementos mais intimistas, denunciados tanto pela narração em off quanto pelos silêncios que parecem sugerir muito ao espectador. Essa subjetividade convive lado a lado com o já citado realismo que permeia todos os detalhes técnicos do filme, desde o óbvio nos figurinos (ganhadores de um merecido Oscar), cenários, fotografia; até nos diálogos, trejeitos e nas belas atuações do grande elenco.
O drama que se desenvolve no triângulo amoroso entre Newland Archer (Daniel Day-Lewis), May (Winona Ryder) e a Condessa Oleska (Michelle Pfeiffer) reflete bem os valores rígidos e a impiedosa moral que pairavam feito uma nuvem negra naquela Nova York de 1870. Ao se apaixonar pela sua cliente, Archer atropela não só o seu noivado, mas o evidente preconceito dos americanos com quaisquer modos que parecessem exóticos e diferenciados daqueles da alta sociedade da época. Esse elemento real ainda fica mais reforçado para nós, espectadores do século XXI, ao detectarmos a gênese de todo o preconceito e xenofobia que são marcas quase indeléveis da cultura estadounidense pós “11 de Setembro”.
A lentidão quase arrastada dos fatos também evoca certo realismo, quando pensamos que isso serve a uma reconstituição da narrativa literária desse período. E a ampla gama de sutilezas e detalhes ajudam a recriar o clima da época com perfeição. Quanto a isso, vale lembrar que Scorcese foi muito criticado por dirigir uma obra tão ausente de suas marcas registradas, como os exageros estéticos de “Gangues de Nova York”, a violência marginal de “Táxi Driver”, ou o banho de sangue de “Os Infiltrados”. Mas a opção de abrir mão de sua marca autoral com certeza privilegiou a força da história original de Wharton.
Apesar de tudo isso, pode-se fazer uma pequena ressalva na caracterização dos personagens, mais precisamente May e Ellen Oleska. A noiva de Newland tem brilho no início do filme e cativa sem precisar forçar simpatia, mas com o surgimento da Condessa e sua rebeldia aos ditames da sociedade, May parece assumir um caráter mais conservador. Nada que comprometa, porém, a intenção de levar as telas todo o ar da Nova York e daquela América (ironicamente tida como “inocente” no título do filme) do fim do século XIX.



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